O trabalho nos rouba um tempo precioso de vida. Isto é fato, mas como, de que maneira podemos recuperar este tempo roubado?
Hoje, um dia sem trabalho, pela primeira vez em quase um ano, saí do meu mundo físico para ver a vida sem propósito algum. Foi bom. Alias, foi espetacular. Foram apenas alguns minutos que me permiti divagar pelas ruas do centro da cidade sem ter que ir a lugar algum, andar sem objetivo específico, senão o de curtir, momentaneamente, a liberdade que me é dada e que é por mim tirada.
Sentir a rua quase vazia e tudo o que a forma, a compõe, suas minúcias e ver quem habita aquele espaço físico. Foi engraçado perceber que a cada hora um tipo de gente domina a rua. Os prédios, eles se modificam na calada da noite. Não sei, mas eles me pareceram mais imponentes, mais fortes, mais viris.
Na praça dos marginais, vi gente de bem, muita gente de bem, como dizem os que vivem em estereótipos, tinha lá, uma moça sentada sozinha, o que fazia ela, naquela hora, de braços cruzados como se sentisse frio, sentada, sozinha, bem no centro da praça dos marginais, seria ela também marginal? Sim, de alguma forma seria. Noutro banco, mais adiante, um casal de namoradas se abraçando, num amor tão intenso que interrompi com minha passagem, não teria, elas, um lugar adequado para expressar este amor, ou queriam elas, ali, naquele banco da praça dos marginais provar que o amor é mais, infinitamente mais do que as pessoas dizem? Mas porque se separaram quando passei, será que pensaram que eu pudesse ser o tipo de pessoa moralista?
Também tinha um casal de idosos, muito românticos, o velho parecia bêbado, mas um bêbado romântico. Será que ali, naquele exato momento eles se encontraram e resolveram se unir em delicias e vida?
Ao olhar o sinal a minha frente e perceber que estava fechado pra mim, eu, que nunca respeitei nada que impedisse meu caminhar, parei, ainda que não estivesse vindo carro algum, parei e decidi obedecer aquele sinal. Foi bom, parar por opção, interromper minha marcha constante só porque eu quis, se eu quisesse poderia ter passado, mas não, esperei, respeitei porque quis. Descobri, então, que a melhor forma de respeitar é aquela que se respeita em liberdade... Preciso incorporar isso na minha vida.
Liberdade, é, liberdade. Liberdade é meu maior norte, minha pedra filosofal, e por incrível que pareça, quando me senti em plena liberdade te quis ao meu lado. Você, que mal conheço, mas que já desejo de forma intensa. Você, que em poucas palavras abrandou minhas carências. Farei parte de sua vida como desejo? Provavelmente não, afinal, este não é o tempo de amar. Mas foi bom, foi realmente bom sentir, naquela esquina, a mais importante de toda a cidade, suas mãos, percorrendo de maneira suave meu corpo ainda que você jamais faça isso... E pousando, de modo a sustentar meu amor, suas mãos sob meus seios, me olhando fundo nos olhos e me sorrindo um sorriso que é só meu, porque roubei pra mim e você nem sequer percebeu.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
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