Pensando na dor da princesa traída, terminou seu cigarro, escovou os dentes, fez um bochecho rápido com um branqueador barato, ajeitou o cabelo em frente ao espelho e foi, ao encontro do destino.
Acreditava em astrologia. Acreditava a tal ponto, que quando era reprimida por algum tipo de comportamento inadequado, pensava: os astros são os culpados, eles me fizeram assim. Merda de marte em escorpião, isto me deixa muito agressiva. Foda-se!
8 quadras até a próxima parada de ônibus, passos lentos e a idéia fixa na traição que tinha sofrido a princesa. Ofegante, corre alguns metros para conseguir alcançar o ônibus que já estava no ponto. Sorri largamente quando entra, e pensa no quanto deve ser rica a vida de um motorista. E tediosa. Se escora em um ferro, pois todos os assentos estão ocupados e se compadece com uma velha mulher, de olhos esbugalhados, que segue, igualmente em pé. Pensa como são injustos os jovens que não sedem lugar a estas criaturas cansadas. Três pontos depois, uma cadeira vaga em sua frente. Ela senta e se nega a reconhecer as injustiças etárias que ocorrem dentro do transporte público urbano.
Terminal de ônibus. Agitada, desce e procura a placa de parada da linha que precisa. Segue e se posiciona bem na ponta da flechinha que indica o lugar exato em que a porta irá abrir. Se sente orgulhosa. Finalmente poderá escolher o seu lugar. Posiciona-se, ao seu lado, encosta uma senhora tensa, com todas as partes do corpo comprimidas. Ofendida, da um passo a frente tentando garantir o lugar que lhe é de direito. Vira a cara.
Passos rápidos, agora o tempo a pertencia novamente. Din-don! Din-dom! a porta abre e uma luz dissipada foge pela sua fresta. Ouve um grito: entra! Deixei o portão aberto. Clack! O barulho do fechamento do portão lhe pareceu mais alto que de costume. Tum-tum! Tum-tum! Tum-tum! O coração dispara, as mãos gelam, o sorriso empedra e os passos se seguem mais lentos, quase parados. Não podia entender o porquê daquilo, nada havia feito de anormal.
O dono da casa veio ao seu encontro, questionando o porquê de tanta demora, e a puxou pelo braço. Ela fechou a mão afim de que ele não percebesse sua temperatura. A casa estava uma penumbra, e no fundo da sala escura pode perceber um vulto calmo e majestosos que produziu um som bem parecido com um oi qualquer. Ela ficou muda. Então, aquele vulto veio ao seu encontro e tinha um cheiro que envolvia qualquer um que se aproximasse.
Boa noite, eu sou o Marco, amigo de infância do Lucas, muito prazer! – silêncio – seu nome? Como é seu nome? E com uma voz quase que imperceptível ela pode responder: Michele. Como? Perdão! não entendi. Nisso, Lucas interveio salvando-a daquela resposta complexa: Michele, o nome dela é Michele. A Michele é uma grande amiga minha, a melhor, diria! Somos unha e carne, mais que isso, somos mais... Enquanto isso, Michele acompanhava com o olhar inquieto e o corpo estático, os movimentos dos dois na sua frente. Não escutava nada. Não entendia nada. Estava ali, imóvel e nem sabia o por que.
Até que percebeu Lucas comentar com o amigo: nossa, a Michele esta tão estranha hoje, nunca a tinha visto deste jeito, deve ter se impressionado com a sua presença! Assustada com aquele comentário, soltou uma falsa e estridente gargalhada. Todos riram! Conversaram, jantaram, beberam e o amigo se foi. Naquela noite, Michele precisou se alojar ao lado do amigo-irmão para que pudesse conseguir dormir. Dormiram de conchinha e no outro dia, ao acordar, pouco se lembrava do ocorrido, em sua mente só havia lugar pra uma coisa: Marco.
Banho, café, carícias e alguns comentários perdidos foram suficientes pra que pudesse reunir suas forças e enfrentar duas horas de ônibus lotado até chegar a sua própria vida. Todo o percurso foi repleto de Marco. O via em todos os lugares, buscava seu cheiro, seu vulto, seu gosto que ainda não provara, mas que já sabia que era o melhor.
Ao entrar em casa quase que não se reconhece. Busca as marcas de Marco, com a certeza de ele já ser parte de toda sua existência. Não encontra nada que o identifica. Se sente sufocada, as mãos geladas, o coração acelerado, os passos lhe faltam e então ela grita a dor da perda daquele homem que era tão seu.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
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